Publicado na revista Science, o estudo realizado por pesquisadores da Universidade Azabu, no Japão, demonstrou que a oxitocina, um hormônio presente nos seres humanos e em cães, é responsável pelo fortalecimento do vínculo afetivo, a partir do olhar humano focado nos olhos de um cão de companhia e viceversa. Para entendermos melhor a pesquisa, vamos conhecer um pouco sobre a oxitocina.

A oxitocina foi descoberta em 1909, portanto, há mais de um século. Inicialmente, constatou-se que ela fazia com que o útero em gatas grávidas sofresse contrações. No decorrer das décadas, mais pesquisas foram realizadas e verificou-se que a oxitocina, também, estimulava a musculatura da glândula mamária das mulheres na produção de leite para seus bebês. Ao mesmo tempo, essa substancia produzida pelo cérebro tem seu nível aumentado, durante a troca de olhares fixos entre mãe e bebê, em ambos os organismos. Na mãe, o chamado “hormônio do amor” acalma e estimula a genitora a dar de mamar ao bebê, assim como, exteriorizando o carinho por ele. Por sua vez, o bebê também tem o nível de oxitocina aumentado e é estimulado para um comportamento de apego à mãe, na troca de olhares, culminando com o fortalecimento do vínculo biológico entre eles.

Uma outra evidenciação empírica mostrou que a oxitocina influenciou no comportamento social de animais elevando o nível de confiança entre eles e de cooperação. O experimento envolveu
roedores que toleraram demais membros de sua espécie em espaços apertados, ao receberem a oxitocina no organismo sendo, portanto, uma substancia reguladora do comportamento social.

Ressalta-se que a presença da oxitocina produzida pelo cérebro não está ativa o tempo todo no organismo e seu efeito é temporário, mas, é gerada na interação entre a pessoa e seu cão já nos
instantes iniciais da troca de olhares. Ela, também, leva a produção de outros hormônios como a serotonina responsável pela redução do nível de ansiedade de uma pessoa, além de ajudar no
bom humor. A dopamina é outro importante neurotransmissor estimulado pela oxitocina que gera as sensações de prazer e de bem-estar.

Uma pesquisa realizada com pessoas, em 2000, mostrou que a oxitocina gera maior grau de generosidade, confiança e melhora no comportamento social. Em 2003, a Universidade de Maryland apresentou uma pesquisa que foi publicada no períodico “Behavioral Neuroscience” demonstrando que a oxitocina influenciava o comportamento monogâmico entre ratazanas. A última descoberta feita pelos pesquisadores japoneses, em 2015, reuniu no processo de evidenciação empírica 30 donos de cães de diferentes raças, tais como: golden retriever, pastor alemão, poodles, jack russel terrier e schnauzers. Fêmeas e machos participaram do estudo.

Antes do teste foram coletas as urinas de todos (humanos e pets) para futura análise do nível de oxitocina. Durante 30 minutos, os donos brincaram com seus cães acariciando-os e focando
fixamente o olhar nos bichos, alguns focaram mais do que outros. A seguir, foram coletadas novamente as amostras de urinas. Ao analisar os resultados constatou-se que houve um
significativo aumento no nível de oxitocina depois da interação. Tanto a urina dos humanos quanto dos animais mostraram um maior nível de oxitocina. Aqueles donos que focaram mais
nos olhos dos cães apresentaram maior volume do hormônio na urina e o mesmo aconteceu com os cães que olharam para seus donos por mais tempo do que outros. Ao repetir o teste, mas, utilizando lobos, ao invés dos cães, a análise das urinas não apontaram alterações no nível de oxitocina.

Conclusão: o olhar recíproco entre o cachorro e seu dono dispara os níveis de ocitocina no cérebro fortalecendo e estreitando o vínculo da relação entre eles. À medida que esse olhar é mais constante, maior é a taxa desse hormônio no organismo e maior é o afeto.

Carlos Pires
Diretor-Presidente